Algarve 2009

Lembro-me bem desse dia, desse tempo, dessa semana.
Lembro-me de praticamente tudo. Do Sol, maravilhoso, do meu Portugal. Do teu impacto M, não não tu M, a outra M! :)
Lembro-me pois é uma memória tão vívida que seria capaz de re-criar a nossa conversa quase palavra por palavra, consigo ver-nos os três sentados naquela pastelaria no fórum, até me lembro em que cadeiras cada um de nós estava. Foi a primeira, de muitas, conversas que tivemos ao longo destes últimos três anos, conversas que no seu conjunto tem tido o condão de me, acordar acho que é o termo mais certo.
Lembro-me do andar na Lagoa, de vê-lo pela primeira vez, do cheiro, da luz, até me lembro do cheiro do shampô que usei que sempre me leva a recordar essa semana.
Lembro-me de Lagoa e de Vale de Centianes. Acho que até então tinham passado três ou quatro anos que eu tinha estado numa praia. Lembro-me de me lembrar do quanto gosto de estar ao pé do mar, de ouvir as ondas e sentir o quente do sol na pele enquanto forajo na areia com os pés. Lembro-me especialmente do silêncio e da calma. Frequentemente, agora, quando preciso de relaxar, forço-me a ficar quieto e voltar à praia de Centianes. É por tudo isto que quero sempre ir àquela praia, não porque seja melhor que qualquer outra, mas porque tem um significado tão importante e pessoal para mim. Tradição importa, o passado importa, e relações com a tradição importam. Mas é um balanço delicado, entre não ficar preso no passado e viver o presente, entre firmar novas memórias e recordações e manter um laço com o que passou, com o que é e foi importante, pois é normal repetirmos um comportamento se fazermos aquilo que nos faz felizes. E isto é tão mais importante com pessoas, amigos família e outros mais que tais.
Mas digrido.
Lembro-me também da angústia e da tristeza e do desespero.
Tinha sido um Verão... interessante digamos. Muito aconteceu, bom e mau, e desesperante. Sentimentos foram agredidos e corações partidos.
Lembro-me de me sentar e escrever tudo o que me ia na cabeça, tudo o que sentia. Lembro-me também que decidi escrever, fisicamente. O pensamento fica se utilizamos papel e caneta ou um computador ou um telefone, mas é diferente escrever, mesmo, fisicamente. Não o faço frequentemente. Gosto da ideia que posso partilhar as minhas divagações através deste meio que é o blog e dou demasiado preguiçoso para escrever e depois digitar tudo novamente, e, no entanto, foi exactamente isso que fiz nessa semana em Novembro há três anos.
Porque precisava de escrever, com a minha mão, em folhas de papel, com a minha escrita. Necessitava disso, e do silêncio e da calma e da isolação e do sol, e nem sequer o sabia, só olhando agora o consigo perceber.
Lembro-me de ouvir a Comercial e os Cromos lá, pela primeira vez, e também isso me leva de volta a esse tempo e a essa semana.
Foi uma semana seminal. Por tudo. E tanta coisa mo recorda. Uma canção, um cheiro, uma lembrança, um pensamento.

Mas... agora, ás vezes, ao mesmo tempo, me assusta um bocado, relembrar, e reviver algumas dessas emoções. Começo a não querer revivê-las, acho.

Apesar disso, há outras memórias do Algarve, que formei, e formámos, desde então, na sua grande maioria boas e em grande parte excelentes. Nunca esquecerei aqueles quatro dias em Abril de 2011, foi um fim-de-semana incrível.

Tudo volta ao início, a Novembro 2010. Nessa semana que fez um sol e um calor inesperado para a época, especialmente para mim, 18 graus é calor e para quem não tinha ido à praia há tanto tempo ou Verão em Portugal e tais temperaturas há pelo 6 anos. Todos os meus hábitos quando aí vou de férias, e estou sozinho, foram desenvolvidos nessa semana.
Lembro-me da esplanada do café da esquina (Café Rodrigo?), esse especificamente porque era perto da estação de camionetas que me levaria à praia e tinha um esplanada e poucos carros a passar e internet wi-fi. Lembro-me de lá sentar com o meu pastel de nata e café e a minha toalha. Lembro-me porque passei essa semana de calções e de toalha na mão e com o jornal debaixo do braço ou um livro.
Lembro-me de ter perdido as chaves! De me ter sentido inútil e embaraçado e de não acreditar que tinha num instante traído a confiança de alguém que mal conhecia mas que instantaneamente sentira que era alguém especial. Lembro-me da bondade, do vizinho com a sua paciência, e da senhora da churrascaria, que me deixou lá sentar até o vizinho F regressar. Por isso o frango da churrascaria Restaurante Sant'ana é uma tradição com significado.

Lembro-me. Lembro-me dessa semana muito bem. Desse primeiro dia. E de escrever no teu quarto M, ou melhor, no vosso quarto, sentado no "puff" ou bean bag. Lembro-me do sol.

Lembro-me. Lembro-me das memórias.

Lembro-me. Lembro-me que a partir dessa semana me tenho refeito.